14/02/2008

o advogado que era novo e giro (muito giro)

O advogado é novo na comarca. É novo e giro (muito giro), parece um actor conhecido. Trocam-se apresentações, cumprimentos e devidas vénias. A procuradora, apressada, esconde as unhas por arranjar, arrependida por não ter ido de manhã cedo ao cabeleireiro. Coloca a cabeça ligeiramente de lado e mede mentalmente o perímetro abdominal, que massacra às terças e quintas no pilates, grata pelo súbito recato da beca. Mais tarde, prestará uma atenção quase coquete à testemunha, fingindo que a ouve. A funcionária agita-se na cadeira quando o advogado novo e giro (muito giro), lhe entrega a procuração, convencida de que é da puta da idade, a subida dos calores. Olhando-o de soslaio, mordisca ao de leve a bic depois de juntar o papel aos autos, e deixa-se ir numa expressão sonhadora, de heroína de novela. O juiz chama-lhe a atenção para que ponha a prova a gravar; ela ruboresce e pega na cassete áudio, que enfia apressadamente no gravador, enganando-se nos botões. A procuradora, cá de cima, acha-a ridícula, enquanto sacode os cabelos como se faz nos anúncios aos cremes jojoba, aqueles passados no meio da floresta, e trinca ao de leve os lábios, para lhes dar cor.