15/02/2008

o bêbado da unha enorme

Tem uma unha enorme no dedo mindinho. Enorme. A advogada, com um arrepio de nojo, dá por si a pensar com obsessão na serventia daquela unha. Mais de dois centímetros, talvez três. O homem gesticula, rasgando o ar com a unha, e conta a sua história. Ele e mais dois colegas de trabalho, bêbados (assumo que bebi senhor doutor juiz), vão para casa ao fim da noite, seriam aí umas quatro da manhã. Tiram à sorte, vai o Casimiro a guiar. É mandado parar na rotunda, sopra para o balão e quase rebenta a escala; é preso, vai para a esquadra. Ficam os outros dois no carro encostado à berma, a fungar e a pensar na vida, o bagaço a emperrar-lhes o cérebro, os corpos tolhidos de cansaço . De repente, uma ideia de génio. Bora ver o Casimiro?, Bora! A cambalear, o arguido passa para o lugar do condutor, liga a ignição e ziguezagueia o punto até à esquadra. Dá nas vistas, a original condução e, após três tentativas de estacionamento no parque quase vazio (à excepção do carro-patrulha) e de um encosto ruidoso ao contentor do pilhão, é ele próprio detido. Instado a soprar para o balão, diligência quase desnecessária, ganha por pontos ao Casimiro. Confrontado com o resultado da sua própria estupidez, chateia-se, amua e recusa-se a assinar o auto, não sei porque é que me prende, não roubei nada, exclama, espraiando perdigotos pelo ar enquanto espeta a enorme unha na direcção das olheiras do policia de turno que lhe aponta a caneta, presa ao balcão da esquadra por um cordel puído.